O Eu e o Próximo...

Igor Xantecler

Eu fiz... Eu falei... Eu cheguei... Eu preparei... Meu esforço... Meu trabalho... Minhas coisas... O Eu muitas vezes vem na frente de quase tudo que dizemos. Isso seria muito simples se não vivêssemos em sociedade. Se cada um de nós fossemos uma pequena ilha habitada por ninguém mais, ninguém menos que EU.

Seria tudo muito mais fácil, claro... Imagine não precisar dividir, não precisar explicar, pedir, mandar, pedir desculpa, com licença, obrigado, por favor...

Mas o Eu não é só maravilha. Imagine o seguinte... Se não tem pra quem pedir, você tem que fazer tudo sozinho. Se alguma coisa não der certo, a culpa é inteiramente sua. Imagine não ter com quem dividir seu fracasso... Pior que isso... Se der tudo certo, imagine não ter com quem dividir o sucesso... Mas que Eu se importa? Claro que é bom ouvir: "Ficou muito bom, parabéns". Mas ora ou outra alguém dirá "Não ficou tão bom assim... Melhore isso". Então nesse caso é melhor ser apenas Eu.

Mas isso tudo não passa de suposição... A realidade é que vivemos em sociedade e temos que conviver com o próximo, temos que dividir, temos que pedir, temos que atender, temos que ouvir, temos que falar, temos que aceitar e ceder, pedir desculpas, pedir com licença, pedir por favor, agradecer...

Mas o que isso tem a ver com o Movimento Escoteiro?

Bem, um dos pontos da Promessa Escoteira é o Serviço ao Próximo (em toda e qualquer ocasião) e o terceiro artigo da Lei Escoteira diz que O Escoteiro está Sempre Alerta para ajudar o Próximo (e faz todos os dias uma boa ação).

Ou seja, se o Eu prevalece, onde fica o Próximo? Nós do Movimento Escoteiro somos diferentes das pessoas que não fazem parte do ME. Mas não é por conta do Uniforme ou Traje/Vestuário... Somos diferentes pois somos uma Fraternidade Mundial, nos preocupamos com o mundo que vivemos e procuramos deixa-lo melhor do que encontramos, cuidamos do meio ambiente, respeitamos o próximo e servimos nossa comunidade, nossa cidade, nossa pátria. Tudo isso, dentre muitos outros pontos nos fazem diferentes dos demais.

Mas isso não nos põe numa posição melhor que os demais, não somos especiais por isso. Como Tio Ben disse para o Peter Parker "Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades". Ou seja, muitas vezes, se quisermos seguir a risca os princípios do Movimento Escoteiro, vamos precisar abrir mão do Eu e começar a agir pelo Próximo.

Mas alguém pode dizer "E o que eu ganho com isso?"... Aparentemente, nada... Mas se estiver Sempre Alerta, perceberá que ganha... e muito.

BP disse certa vez que a melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros. Reforçando mais isso, os Beatles, em The End (a famosa penúltima música do penúltimo disco), dizem que "And in the end / The love you take / Is equal to / The love you make". Ou em bom português "E, no final / O amor que você recebe / É igual / O amor que você dá".

Tudo isso porque? Para fazer algo bom para o próximo (leia-se próximo como mundo) temos que mudar muitas coisas dentro de nós mesmos. Para fazer alguém feliz, eu preciso estar feliz. Para dizer para alguém que ele não deve fazer algo que é ruim, eu preciso fazer da minha fala, minha ação. Não existe aquela história de "faça o que eu digo e não o que eu faço". O exemplo é a maior que qualquer discurso. Se quero que alguém seja bom, preciso eu primeiro ser bom...

E tudo isso se aplica ao Movimento Escoteiro. Seja para o Monitor/Sub-monitor, enquanto líder de seus colegas de patrulha, seja para o Chefe, enquanto espelho de seus jovens, seja para o Pioneiro em relação ao Sênior e este em relação ao Escoteiro e este outro em relação ao Lobinho. Seja qual for sua posição dentro do Movimento Escoteiro. Vivemos em sociedade, somos um grupo, somos uma fraternidade e as nossas relações com o próximo fazem-nos diariamente pessoas melhores...

Quer saber como deixar o mundo melhor do que encontrou? Comece a pensar no próximo e agir pelo próximo... Esqueça o Eu que aos poucos você passará a ser uma pessoa melhor e, consequentemente, deixando o mundo um lugar realmente melhor do que encontrou, vazio de Eu's e cheio de Nós.